Paixão de Cristo

 

esse próximo fim-de-semana estaremos revivendo mais uma vez a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que ao contrário do que um bando de hereges acredita, não foi a Maria Madalena. Não estou com isso querendo dizer que Redentor não tivesse intenções sérias com a jovem mulher, limitando-se apenas a usá-la para lhe lavar e perfumar os calosos pés com os seus cabelos. Na verdade, o bom Jesus só não lhe propôs casamento porque, como bom sacerdote católico estava preso aos votos de celibato. 

Nem pensem esses mesmos hereges que a santa mulher era alguma madalena arrependida, mulher de má vida pregressa, de folha corrida manchada. Ela sempre foi uma mulher de fortes princípios morais, católica praticante, e de higiene pessoal impecável, além de ser muito bem relacionada na sociedade local. Conhecera Jesus quando esse ainda era um estagiário, tendo ele lhe livrado dos sete demônios com quem convivia. Uma espécie de anões de Branca de Neve, só que crescidos e todos com a cara do Zangado. 

Por Paixão de Cristo nos referimos a uma porção de malvadezas que Nosso Senhor sofreu nas mãos de uma conhecida igreja alternativa, com a cumplicidade de uns políticos corruptos e imperialistas italianos. 

Tudo começou quando Nosso Senhor Jesus Cristo foi a Jerusalém para os festejos da Páscoa, quando era comemorada a sua ressurreição. Desfilando em carreata sobre uma jumenta e um burrico, numa evidente homenagem ao nosso sofrido povo nordestino, o Nazareno foi recebido com delírio pela população local, que por falta de bandeirinhas o saudaram com ramos retirados da arborização municipal, atitude anti-ecológica, só perdoável porque se tratava de quem se tratava. Isso muito desagradou aos fariseus, uma espécie de elite religiosa, que viam no Senhor uma ameaça aos seus privilégios. Chegando ao Templo, o Bom Jesus, expulsou de suas dependências, uns vendilhões que comercializavam artigos fajutos vindos do oriente, de Taiwan, com palavras mansas e um chicote. Isso colocou contra ele o sindicato patronal dos comerciantes locais, que não percebiam o novo mundo de bons negócios que se abria à sua frente.

Todo messias tem alguém que o traia. Tiradentes teve o Silvério dos Reis. Collor, teve o Pedro. Jesus também teve o seu traidor, Judas Escariotes, que por 30 merrecas o entregou à repressão. Também era Judas que, quando o grupo se reunia à mesa, dava pum e negava depois. Por isso, quando da última ceia, quando o senhor o acusou frontalmente, ele nem se deu ao trabalho de dizer que não tinha sido ele. Foi também durante a última ceia que o senhor estabeleceu a eucaristia. Partiu o pão, serviu o vinho e o compartilhou com os seus discípulos. E recomendou que sempre o fizessem em memória dele, o que em parte explica o sucesso do catolicismo. Todos sabemos que para reunir gente é só colocar comida na mesa.

No Monte das Oliveiras o Senhor foi preso e levado à casa de Caifás, uma espécie de delegacia local, onde o inocente réu levou alguns safanões, bofetadas e cusparadas, como qualquer inocente em qualquer delegacia. Daí o levaram para o poderoso chefão Pilatos, que ninguém fazia nada no pedaço sem que o italiano assinasse em baixo. Pilatos, como bom político, lavou as mãos e disse que não era com ele. Pressionado pelo populacho que lhe exigia uma posição menos mineira, novamente passou para a turba a responsabilidade, deixando que escolhessem entre Jesus e Barrabás, preso por corrupção. Como em qualquer eleição, o pessoal acabou votando no corrupto.

E assim, acabou Nosso Senhor pregado a uma cruz de madeira, sem o menor conforto, bebendo vinagre em vez de um bom vinho tinto, sendo cutucado por  pontas de lança e escarnecido pela soldadesca, e entre dois ladrões, contrariando a máxima do diz-me com quem andas, pois que em toda a sua vida foi honestíssimo, sendo o único pelo qual eu meto a minha mão no fogo.

No terceiro dia, no domingo, ressuscitou o Senhor. Procurou Maria Madalena e lhe recomendou que não comentasse com ninguém. E assim ficamos todos sabendo da história.

Essa semana comemoramos esses acontecimentos, comendo bacalhau pelo triplo do preço, e distribuindo os ovos do Coelhinho da Páscoa. Assim, mostramos o nosso sentimento pelo sofrimento do nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu na cruz para nos salvar.

Amicitia fucata vitanda.

Padre Américo

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