Contradições

 

Divinas Contradições

As religiões cristãs afirmam, baseadas principalmente na bíblia, que existe um deus criador de todas as coisas que é onisciente, onipotente, infinito, completamente justo, perfeito, infinitamente bom, onibenevolente, onipresente. Ensinam que esse deus ama todos nós, desde que o adoremos. Ensinam que ele quer nos salvar, deseja que acreditemos nele e sigamos os ensinamentos bíblicos. Afirmam que esse deus já mandou um representante seu até aqui, seu filho Jesus, para nos salvar. E que somente acreditando nesse seu representante,  seremos salvos.

Existem muitas contradições nisso tudo, que gostaria de comentar brevemente, e se possível, saber o que os cristãos da lista têm a dizer . 

 A própria idéia de onipotência é contraditória. Poderia um ser onipotente construir uma pedra tão grande e pesada que nem mesmo ele pudesse erguer? Qualquer que seja a resposta, ela indica que esse ser não é, nem pode ser onipotente.

 Um ser não pode ser ao mesmo tempo onibenevolente e onipotente. Um ser onipotente pode tudo, inclusive fazer o mal. Se é capaz de fazer o mal, então não é onibenevolente. Um ser onibenevolente não pode fazer o mal, mas apenas o bem. Se é assim, ele não é onipotente. 

Há contradição entre os conceitos de onibenevolência e justiça infinita, aplicados a deus. Um ser totalmente justo é aquele que aplica contra um pecador P  uma pena exatamente proporcional ao pecado que esse indivíduo cometeu. Um ser benevolente é aquele que aplicaria contra esse pecador P uma pena mais branda que ele mereceria. Portanto, um deus não pode ser ao mesmo tempo onibenevolente e totalmente justo.

 A bíblia diz que deus às vezes se arrepende de coisas que faz. Isto vai de encontro à idéia de sua onisciência.
Um ser onisciente não pode mudar de idéia nem se arrepender. A bíblia afirma que deus castigava filhos e descendentes de pecadores. Até animais dos pecadores eram punidos com a morte. Isto vai contra nossa noção de justiça. Um ser que age assim não é justo nem bom.

A bíblia ensina que os que não crerem em deus serão castigados para sempre no fogo eterno. Isto seria sua punição contra os que não acreditarem nele. Entretanto, uma punição como esta é na verdade uma vingança. Punição visa recuperar o indivíduo que erra. Punição eterna, portanto, deixa de ser punição, e só pode ser aplicada por um ser vingativo. Se um deus age assim, ele está admitindo sua incompetência em fazer um ser humano bom, e sua inabilidade em recuperá-lo.

A bíblia diz que deus, mesmo sendo perfeito e justo, tenta, sem êxito convencer a humanidade de que só Jesus salva. Entretanto 2/3 da humanidade não acreditam que Jesus foi ou é seu senhor e salvador, mesmo depois de dois mil anos da sua suposta passagem pela terra. Isto contraria a onisciência de deus. Mostram que seus planos falharam, mesmo sendo ele supostamente onipotente e onisciente. Poderíamos supor que a maioria da humanidade será punida por sua ignorância? Os teólogos tentam sair desta enrascada afirmando que os descrentes são rebeldes, do contra, são pessoas que odeiam deus, ou não crêem porque não querem. A simples observação mostra que isto não corresponde à verdade. Crença não depende da vontade de crer. Acreditamos no que pudemos acreditar.

 A bíblia nos diz que deus é perfeito. Entretanto, nosso mundo é imperfeito. Prova disto são ao doenças não causadas pelo homem como vários tipos de  câncer, as malformações congênitas, os abortos não provocados, as catástrofes naturais, as secas e enchentes, etc. Como se explica que um ser perfeito não tenha capacidade de fazer um mundo perfeito? Ou se ele fez o mundo perfeito propositadamente, qual seria seu objetivo? Se for punição, fica difícil explicar por que crianças, animais e inocentes sofrem com essas desgraças. Se é o demônio o causador do mal, fica a impressão de que um deus onipotente mede forças com um ser inferior, e tem dificuldades em derrotá-lo. Se o mal é provocado por deus para despertar sentimentos nobres em nós, fica difícil crer que um ser onisciente não tenha tido idéia menos cruel e mais eficiente para obter seus propósitos.

A bíblia ensina que deus deseja que acreditemos nele e tenta nos convencer da sua existência. Entretanto, sabemos que em todas as épocas existiram e existem pessoas que, honestamente desejam saber os ensinamentos da bíblia, mas não acreditam. Em todas as épocas, grandes pensadores, filósofos, cientistas, políticos, intelectuais se opuseram às religiões. Os teólogos têm dificuldade em explicar como um deus onisciente tem dificuldades em se revelar para muitos sábios. Sabemos que a crença em religiões é mais freqüente em pessoas menos esclarecidas, e que é mais comum entre as mais instruídas. Religião é comumente associada com superstição. Pessoas supersticiosas quase sempre são também religiosas, e vice-versa. Então fica a impressão de que deus não consegue "penetrar no coração" de muita gente, mesmo sendo ele onipotente e onisciente. Teólogos apelam para o livre arbítrio para explicar essas coisas. Afirmam que deus quer que o aceitemos sem evidências. Em outras palavras, quer que sejamos crédulos. Será que credulidade é uma característica nobre e necessária? Parece-me que não. Credulidade e superstição já andaram de mãos dadas no passado, e o resultado foi muitas vezes catastrófico, como a inquisição. Durante o nazismo 6 milhões de judeus foram massacrados por Hitler. Deus não salvou aquelas pessoas, e para muitos cristãos, ele não age nessas circunstâncias por causa do nosso "livre arbítrio". Mas por que será que a salvaguarda do livre arbítrio de Hitler seria mais importante que 6 milhões de vidas inocentes?  Gostaria de ler seus comentários.

ZeMane

 

Húmil Zé Mané,

Erras ao acreditar que a religião cristã, também chamada Católica Apostólica Romana, esteja limitada ao que está escrito na Bíblia ou que em suas palavras se apóie. Na verdade, nossa Igreja baseia-se nos ensinamentos de Cristo, que nos foram legados pelos seus apóstolos, através de Pedro, nosso fundador, em milhares de documentos, que tratam desde o verdadeiro Gênesis à verdadeira data do Apocalipse, em linguagem clara e objetiva, que não podemos deixar chegar ao conhecimento do nosso rebanho para que a verdade não crie em suas cabecinhas a dor e a angústia que costumam provocar as coisas nuas e cruas. Mas vieste ao lugar certo na procura do verdadeiro conhecimento. Nos é facultado, a nós santos homens, dispensar esse cabedal de sabedoria, gota a gota, àqueles que dele têm sede.

A onipotência é contraditória, desde que não ligada à onisciência. Por isso, em sua sabedoria, o Altíssimo nunca procuraria criar uma pedra tão pesada que ele próprio não pudesse levantar, pois, além disso criar um loop lógico, ele não teria nem onde colocar tamanho monólito nesse universo sem prejudicar toda a harmonia tão apreciada pelos nossos astrônomos. Mas concordam os teólogos que Deus pode criar uma pedra tão pesada que o Super-Homem não possa erguer.

A onibenevolência, apesar de não constante no currículo do Senhor dos Exércitos, é parte da sua onipotência e faz dEle um cara bem legal. Isso porém não o impediu de criar um Lúcifer para atazanar nossa vida. Ou você acha que em sua onisciência o Altíssimo ignorava o que o seu luminoso anjo iria aprontar? Contradição? Não! Como onibenevolente, o Senhor é capaz de tudo que é bom, inclusive de fazer algumas maldades para apimentar nossa vida e evitar que fizéssemos um suicídio coletivo lemminguiano por puro tédio.

Além de onibenevolente e infinitamente justo, o Senhor é onipotente e o dono do pedaço. O que ele fizer está feito e pronto. Não adianta bufar. Feito Brasília. Por isso, essa tua dúvida não cabe. Assim como sempre existe uma lei maior que prevalece, existe um poder maior que prevalece. E a onipotência é esse poder. Quem tem onipotência tem tudo. Inclusive o poder de mandar um raio na cabeça de quem ficar fazendo perguntas inconvenientes.

Considerando-se a idade do nosso universo e que o Senhor o criou quando já era um velho de barbas brancas, leve em conta as naturais falhas que devem ocorrer em sua onisciência. O que sua justiça infinita, tenta corrigir com divinos arrependimentos, e radicais mudanças de idéia. Mas o Senhor é justo e é bom. Considere o fato de não teres recebido um raio pelas idéias até o presente momento como um sinal dessa infinita bondade.

A queima no fogo eterno é apenas uma questão de marketing. Mostrar dificuldade para vender facilidade. O Senhor e Satanás trabalham como o detetive bom e o detetive mau dos seriados de Hollywood e, em parceria, vão salvando todas as almas pecadoras desse nosso mundo. Podes ficar tranqüilo que não vais queimar no fogo da geena. Principalmente se contribuíres generosamente com a tua paróquia.

Existe um convênio entre as diversas religiões. Se um fiel acredita em Buda e segue fielmente seus ensinamentos, no seu post-mortem poderá freqüentar o Paraíso Celeste com carteirinha de sócio em trânsito. Isso pode parecer até uma limitação, uma injustiça, mas se ele escolheu professar uma religião cujas instalações no Além são de qualidade inferior à do Paraíso judaico-cristão, por certo foi uma opção dele.

O Senhor, na sua perfeição, criou um mundo perfeito. Os cânceres, as más-formações congênitas, os abortos não provocados, as catástrofes naturais fazem parte desse mundo perfeito. Os dois únicos elementos não perfeitos por ele elaborados na divina criação, foram o homem e o ornitorrinco. Também, fossem todos perfeitos, que graça teria?

Engana-se nossa ovelhinha ao acreditar que o Altíssimo está preocupado em convencê-la da sua existência. Fosse isso verdade, apareceria ele pessoalmente para lhe dar-te um bem aplicado cascudo. Deus é Pai e como tal nos colocou a todos no mundo. "Crescei e multiplicai-vos", nos disse. "Crescei e virai-vos", ficou implícito. Pai que se mete em problemas de filhos maiores acaba criando um bando de tolos.

Sapiens filius laetificat patrem.

Padre Américo

 

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