Sexo no Paraíso

 

Meu caro padre:

A natureza, em sua sabedoria, não confiou na responsabilidade e determinação do homem para manter a espécie por determinação própria.  Por isso fez o sexo tão gostoso.  Se criado por Deus, como também acredito, foi em um ato de amor e não se coloca limites quando se ama. Cada um exerce a sua sexualidade como a natureza lhe deu.  Não há como ser diferente sem que haja frustração.  Assim sendo, de todas as variáveis da sexualidade humana, a mais anti-natural e anti-divina, é a abstinencia.  Assim penso.  Quanto a Morgana, não creio que esteja muito preocupada com o que pensem dela.

Andrezza

 

Minha inocente criança,

Deus, em sua sabedoria, ao criar o mundo, não criou o sexo. No paraíso, o maior pecado à disposição dos seus habitantes, era comer do fruto da árvore-do-bem-e-do-mal, nada mais que uma simples maçã, ou uma goiaba para nós brasileiros.

Satanás, o tinhoso, para quebrar essa harmonia, deu à mulher curvas voluptuosas, lábios carnudos e sensuais, pernas esguias, seios polpudos e eriçados, quadris amplos, o baixo abdômen sombreado por pelos, quais uma seta a apontar para o objeto do desejo. Uma coisa que até a nós padres perturba um pouco. E que deixou Adão com sua lança, até então sem utilidade prevista, ereta, ansiosa, pulsante, atrapalhando-o até de andar naturalmente, obrigando-o a usar uma folha de parreira para ocultar a sua vergonha.

E desde então a vida gira em torno de escaparmos dessas tentações, pelo que convencionamos que as mulheres, alvo de nossa perdição, devam vestir-se modestamente, cobrindo seus predicados carnais, e agindo com mansidão e discrição.

Por isso adverti a nossa irmã Morgana, que parecia não se dar conta de que estava mostrando-se uma pessoa muito acessível para nossos padrões morais. Mas não se preocupe pois parece que ela já ouviu as minhas ponderações e tem tido um comportamento mais moderado.

Uti, non abuti,

Padre Américo.

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